Uma espessa cortina branca
desmaia sobre nós. Branca como a espuma resultante do bater ondas que na praia morrem e renascem. Mas há algo na pureza dessa espuma
que contrastava com aquele branco fantasmagórico. Seja onde for, em Terra ou no
Mar o branco procura sempre impor uma estranha reverência, um fascínio
acompanhado de um medo penetrante. Alojado nos ossos e em cada fibra do nosso
corpo, este passivo clima fazia acelerar os corações dos homens mais
experientes a bordo. Os novos, maravilhados com o cerrado espectáculo que
ocorriam perante os seus olhos, não comentavam. Ciente da situação, o mestre assemelhava-se aos cães de caça, perscrutando qualquer som ou movimento, a partir daquele momento os sentidos daquele ser
apuravam-se, de facto, a responsabilidade era esmagadora. Os antigos recordavam
aos mais novos; o medo branco, onde não há piloto, onde não há Terra, o medo
branco, o medo branco... Os avanços tecnológicos permitem combater este medo
intemporal, mas o mestre não confiava, este medo hereditário assim determina a
sua conduta. O horizonte branco, branco
e mais branco, faz com que os olhos
cessem perante este infinito inferno branco. À ré ouve-se um assobiar,
rapidamente silenciado pelo contra-mestre, dizendo; «Está assobiar? Estas a
pedir ventos, cala-te e respeita!» Tal vento interior tinha sido impelido por
um camarada novo que não conhecia as superstições ligadas ao Mar.
Ainda faltavam 60 redes
para acabar de espender - na gíria do Mar Algarvio significa suspender a
rede do fundo - quando o nevoeiro cerrou completamente. Muitos seriam aqueles
que teriam cortado a arte e rumado a Terra ao mínimo sinal do advento desse
malfadado tempo. Mas eles não! Continuaram, esforçando o corpo e a mente a limites insanos! Todos sabiam que em Terra aguardava uma mesa por compor, onde se sentavam bocas esperançosa pelo suor encarnado no peixe do dia.
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