Desvanece
no súbito a calçada, soterrada por folhas caídas de uma árvore desgostosa, que
relembra a sua vistosa pelugem ao espelhar nessas pedras polidas o definhar da
sua beleza...
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
domingo, 9 de setembro de 2012
Sabia...
Sabia...
Sabia que existias,
Sabia... Se sabia...
Sabendo, aguardei...
Por ti aprendi esperar,
Sabia que nos procurávamos,
Sabia... Só não sabia onde estavas...
Sabendo, tudo mudou...
Vi o teu corpo nessas íngremes escarpas,
Nesse espigão, os teus contornos,
Nos olhos de água, o teu olhar sobranceiro,
Na terra dos queimados, o teu tom moreno,
Nas grutas escavadas p`lo
Mar, a tua voz.
No Sol a luminescência do teu cabelo,
No Sol a luminescência do teu cabelo,
No céu... O teu incomparável sorriso...
Por saber esperei,
Por tudo isso não cesso este esperar.
Por tudo isso não cesso este esperar.
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Uma Vida diferente
A Vida não pede perfeição, nem tão pouco esforços nesse sentido. Unicamente, pede um momento para viver, um único e imperfeito momento que possa dar origem a algo diferente.
quarta-feira, 2 de maio de 2012
Som da chuva
No silêncio do meu quarto ouço o som da chuva a bater na janela, como se de um dicionário se tratasse, o som a inspiração às palavras que procuro.
domingo, 29 de abril de 2012
Sentimento Absoluto
Na facilidade da solidão os meus sentimentos procuram forma na palavra escrita. Mas perante o teu olhar vacilo, pois ele, reserva para si todas as palavras do Mundo, e em cada lufada um milénio e em cada palavra dita um sentimento absoluto.
sexta-feira, 23 de março de 2012
Ex nihilo nihil
Ex nihilo nihil
Vejo passar um momento,
Pensei ser algo único,
Afinal, era algo de coisa nenhuma,
Um momento que ali ficou,
Pairando sobre o meu espanto,
Consumindo os meus sentidos,
Onde havia som, um silêncio,
Onde havia vida, ela cessou,
Onde pairou, vi um tudo feito de nada.
Um sentido à vida, feito de nada,
Do nada vem o nada...
Por fim, senti passar um momento,
Que de nada pouco tinha.
domingo, 19 de fevereiro de 2012
Homens? É vê-los no Mar
Às línguas afiadas podemos dizer;
Homens? É vê-los no Mar,
Sim! Em terra são todos iguais,
No Mar distinguem-se dos demais
sábado, 4 de fevereiro de 2012
Esperar
Disseste para esperar. Não consegui suportar mais o consumir
daqueles milenares segundos que nos
separavam do momento do nosso encontro. Os sentimentos evolviam-me de tal forma que a agonia dai
resultante ameaçava vacilar o Mundo. Nos pés a terra faltava-me, num vácuo
estrangulador o ar dissipava-se, numa escuridão opaca a luz cerrava-se e à
minha volta emergia uma nova realidade. Um lugar de recomeço, onde só eu
poderia vislumbrar a tua incomparável beleza. E onde nós poderíamos dar inicio a algo só
nosso.
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
Dois Amores
Dois amores
Sempre fui demasiado dado,
A quem nunca soube receber,
Dessas bocas nem um obrigado,
Mas no final consegui perceber.
Mesmo que fosse comandado,
Nunca iriam engrandecer,
Aquele que por vocês encantado,
Nada vos faria para ofender.
É verdade, estava enamorado,
Não bastasse o carecer,
Tive que ir embalado,
Pelo medo do vosso amor não crescer.
Nem tudo se pode desejar,
Isso não me ajudou a entender,
O motivo da minha falta de ar,
Ao pensar que vos poderia perder.
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
Medo Branco
Uma espessa cortina branca
desmaia sobre nós. Branca como a espuma resultante do bater ondas que na praia morrem e renascem. Mas há algo na pureza dessa espuma
que contrastava com aquele branco fantasmagórico. Seja onde for, em Terra ou no
Mar o branco procura sempre impor uma estranha reverência, um fascínio
acompanhado de um medo penetrante. Alojado nos ossos e em cada fibra do nosso
corpo, este passivo clima fazia acelerar os corações dos homens mais
experientes a bordo. Os novos, maravilhados com o cerrado espectáculo que
ocorriam perante os seus olhos, não comentavam. Ciente da situação, o mestre assemelhava-se aos cães de caça, perscrutando qualquer som ou movimento, a partir daquele momento os sentidos daquele ser
apuravam-se, de facto, a responsabilidade era esmagadora. Os antigos recordavam
aos mais novos; o medo branco, onde não há piloto, onde não há Terra, o medo
branco, o medo branco... Os avanços tecnológicos permitem combater este medo
intemporal, mas o mestre não confiava, este medo hereditário assim determina a
sua conduta. O horizonte branco, branco
e mais branco, faz com que os olhos
cessem perante este infinito inferno branco. À ré ouve-se um assobiar,
rapidamente silenciado pelo contra-mestre, dizendo; «Está assobiar? Estas a
pedir ventos, cala-te e respeita!» Tal vento interior tinha sido impelido por
um camarada novo que não conhecia as superstições ligadas ao Mar.
Ainda faltavam 60 redes
para acabar de espender - na gíria do Mar Algarvio significa suspender a
rede do fundo - quando o nevoeiro cerrou completamente. Muitos seriam aqueles
que teriam cortado a arte e rumado a Terra ao mínimo sinal do advento desse
malfadado tempo. Mas eles não! Continuaram, esforçando o corpo e a mente a limites insanos! Todos sabiam que em Terra aguardava uma mesa por compor, onde se sentavam bocas esperançosa pelo suor encarnado no peixe do dia.
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
Sentir
Vi pela primeira vez,
Senti pela primeira vez,
O aperto agonizante do inalcançável.
Não sabia o que pensar,
Mas o sentir voava, afastava a douta dúvida,
Segui esse sentir, queria estar nele...
Assim viverei sempre a vida,
Parado num enorme e desfasado Mundo,
Onde penso que sinto esse sentir.
segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
Lua
Há dezoito anos que a humanidade não era presenteada, com
o privilégio de ver de tão perto esta entidade astral dona das marés. Embora nesse dia a faina não tenha sido a melhor, ao longo da
tarde, o aperto do agonizante dever de relatar o cenário divino que presenciei,
consumia a minha vontade perante outras tarefas. O que impele o homem a sentir
tal avassalador fulgor que só a escrita consegue acalmar? Quem sabe, o dever de
escrever aquilo que tem que ser escrito. Encontro a harmonia desejada ao relatar esse acontecimento da
seguinte forma: O brilhante raio de luz da Lua rasgava o mar em dois, abismado
por esta espada dos deuses envolvo-me no beliche, em pensamentos tão profundos
como o mar gélido e longínquos como o
horizonte negro. Horizonte que termina
numa constelação em linha preenchida de ofuscantes estrelas. Que estrelas
rasteiras são estas que se confundem com as outras lá do alto? Afinal, não eram
estrelas, mas as luzes dos barcos que polvilhavam lá fora o horizonte
negro. E nesse instante penso na
dualidade da vida. No escuro há sempre uma luz. O mar de fora faz o barco baloiçar,
de borda a borda, ouço com clamor o chapinhar do mar salgado na proa. E como se
de um sino se tratasse, o compassado chapinhar, as badaladas que avisam os
seres marítimos que a hora da faina chegou. Chegado
ao mar da pesca, o mestre dá a ordem.
- Arreia a bóia!
- Em nome do Pai, do Filho
e do Espírito Santo.
- Agora, ninguém sabe
quem vai bem ou quem vai mal.
Enquanto largávamos a rede a vinte mil rotações, fui atacado
pela magnificência daquele astro, que se colocava precisamente no meio do
pente, por onde a rede tinha o último contacto com o barco antes de descer as
profundezas do mar salgado. Poética visão, quase fazendo parar o tempo, não dei
conta que trinta minutos de rede larga tinha passado e que os últimos panos
estavam quase a sair. Interrompido pelo questionamento do mestre, acordei
daquele divino transe luminoso que ofuscou-me o espírito como nada nem ninguém
jamais tinha conseguido. Afinal a Lua é mãe de todos nós, penso que esse foi o
primeiro contacto que tive com essa mãe que foi e será mãe, muito depois das outras mães já cá não
estarem.
O começo de algo...
ex nihilo nihil, resumindo o latinório: "do nada vem o nada". Não serei o primeiro nem o último a reflectir acerca destas intemporais palavras, de facto, tudo começa por algum lado ou por algo, a dita génese. Por via de simples ideias ou acções, tudo o que já pensámos, em alguma época da História já o foi. Talvez no fazer ainda possamos encontrar e fomentar esse sentimento inebriante que é dar vida ou inicio a algo. Seguindo essa premissa, optei por publicar desta forma as simples e humildes palavras que a todo o instante me forçam e obrigam a debitar para o papel a sua existência.
A vida é uma momentânea ronceana de salitre. As ondas o caminho que temos pela frente e o barco a maneira como o atravessamos. Do embate das ondas na proa espalham-se milhões de partículas de água salgada, e nelas podemos ver todos os momentos da nossa vida e no salitre as marcas que ela nos deixou. Sem dúvida, esta Ronceana de Salitre será o começo de algo...
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